Há muitos anos o Brasil trabalha para desenvolver o seu setor vinícola – e o esforço tem dado resultados. Se antes regiões como Mendoza, na Argentina, e o Vale del Maipo, no Chile, eram as mais conhecidas pela produção de vinhos na América do Sul, hoje a história é outra. De acordo com a Wine Intelligence, consultoria global do setor, mais de 50 milhões de brasileiros consomem a bebida regularmente. A bebida caiu nas graças dos consumidores daqui e o setor soube acompanhar a demanda: entre janeiro e outubro de 2022, o mercado brasileiro comercializou 23 milhões de litros de vinhos, aumento de 11% em comparação ao mesmo período de 2020, de acordo com dados da União Brasileira de Vitivinicultura (UVIBRA).
E pelo País o que não faltam são boas regiões produtoras de vinhos. No Nordeste, Sul, Sudeste, e, para a surpresa de muitos, no Centro-Oeste, as produtoras são várias, com diferentes uvas e solos diversificados, que permitem uma produção variada de vinhos e espumantes para os mais diversos gostos e exigências. A seguir, listamos algumas destas regiões produtoras e suas principais características.
Uberaba, Minas Gerais
Conhecida por seus queijos, doce de leite e cachaça, Minas Gerais agora acrescenta ao seu cardápio o rótulo de produtora de vinhos. No Triângulo Mineiro, Uberaba traz a primeira produção da região com as uvas Syrah, Marsanne e Sauvignon Blanc, dentre outras. A região usará o método que inverte o ciclo da videira. Nesta forma de plantio, a colheita não ocorre no verão, como é tradicional no Brasil, mas sim no inverno, quando o clima coincide com o das vindimas do hemisfério Norte. Outra caraterística é a poda: são necessárias duas para dar certo, enquanto tradicionalmente apenas uma é feita.
Espírito Santo do Pinhal, São Paulo
Perto do seu vizinho mineiro, em São Paulo, há também uma região renomada: Espírito Santo do Pinhal, na Serra da Mantiqueira. Com terras altas, suas condições são propícias para a elaboração de excelentes vinhos. A região possui solo seco, com boa drenagem e granítico, muito indicado às uvas destinadas à produção de vinhos de alta qualidade. As altitudes estão entre 1.000 m e 1.300 m, contando com noites frescas e ótima insolação ao longo do dia, gerando uma amplitude térmica entre 10ºC e 12ºC na época da colheita, semelhante às grandes regiões europeias.
Dentre as opções de vinhos que lá existem, estão tintos, brancos e rosé, trabalhando com diversas uvas, entre elas: Cabernet Sauvignon/Cabernet Franc, Syrah, Chardonnay.
Chapada dos Guimarães, Mato Grosso
Para quem gosta de combinar aventura e enoturismo, a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, é mais uma região que promete entregar bons vinhos no País. Na terra de paisagens variadas, como cerrados e florestas, uma vinícola familiar se arrisca na produção de vinho, mesmo em meio a uma natureza tida como controversa à vinicultura. E os primeiros resultados poderão ser observados justamente este ano.
A Locanda do Vale é um vinícola familiar que aposta na novidade de um vinho premium produzido no cerrado mato-grossense. A vinícola, que promete entregar nesta primeira safra 5 mil garrafas e cinco variedades de uvas para vinhos, transpõe as dificuldades da sua localização com estudo e bom uso de tecnologia. A técnica adotada foi o manejo em dupla poda, pelo qual se adequa a época de maturação da uva às condições climáticas ideais. O fruto é, então, colhido no momento do seu ápice de qualidade em açúcares, aromas e coloração.
Vale do São Francisco, entre Bahia e Pernambuco
Aqui temos uma região surpreendente na produção de vinhos, que vem quebrando paradigmas e que colocou o Nordeste do Brasil não apenas na rota nacional, mas internacional do setor de vinhos. Em novembro do ano passado, o Vale do São Francisco recebeu a Indicação de Procedência (IP) para vinhos e espumantes, sendo esta a primeira IP de vinhos tropicais do mundo. A IP é uma espécie de selo que garante a qualidade de produtos de uma determinada região.
Não é exagero dizer que a conquista do selo é uma vitória para os produtores. A região tem clima semi-árido, com solos ricos em minerais e pobres de matéria orgânica. São mais de 3 mil horas de sol durante o ano e, com a combinação de poda e irrigação, são realizadas duas colheitas ao ano. A paisagem em nada se assemelha às regiões vinícolas europeias: suas videiras estão entre coqueiros e mandacarus, o que atesta os desafios de produzir vinhos em uma região nada tradicional.
A região hoje produz cerca de 7,5 milhões de litros de vinhos a partir de uvas viníferas e cerca de 10 milhões de não viníferas. Um dos seus diferenciais é a capacidade de produção de suas safras ao ano: como não há tempo frio, a irrigação serve como um controle da planta. Ao dar água a ela, ela trabalha, e, ao retirar, ela hiberna. Com isso, ela pode repousar por 60 dias, cumprindo o papel do inverno. A região é premiada: na Grande Prova Vinhos do Brasil 2020 foram 3 campeões, 2 Duplo-Ouro e 8 medalhas de ouro. O Vale do São Francisco tem também alguns vinhos ícones: Rio Sol Assinatura e Miolo Testardi Syrah.
Serra Gaúcha, Rio Grande do Sul
Maior produtora de vinhos e espumantes do Brasil, a Serra Gaúcha está entre as cidades de Caxias do Sul, Garibaldi, Monte Belo do Sul e Bento Gonçalves. Localizada no nordeste do Rio Grande do Sul, é responsável por 85% da produção nacional de vinhos brancos, tintos e espumantes. É a força-motriz da vinicultura brasileira e conta com a mais antiga vinícola em atividade no Brasil, que lidera o mercado nacional de espumantes desde 2005: a Vinícola Salton com mais de 112 anos e de grande destaque no mercado.